LAUDIONOR DE ANDRADE BRASIL
Uma
das estrelas da constelação dos intelectuais de Conquista que se sente
envaidecida por tê-lo como filho. Nasceu em uma casa da antiga “Rua Grande”, no
dia 13 de fevereiro de 1901. Foi integrante do corpo docente do “Educandário
Sertanejo” dirigido pelo Professor Euclides Dantas. Foi um dos fundadores do
“Grêmio Dramático Castro Alves”, fundou o semanário “O Combate” no dia 11 de
agosto de 1929, e um dos fundadores do diretório do “Partido Liberal”. Em 1936
já fazia parte do partido político “Autonomistas” do qual era chefe local o Dr.
Régis Pacheco, por cuja legenda fora eleito Vereador nas eleições realizadas em
15 de janeiro de 1936.
Dentre
outras, escreveu:
“O Canto do Meu Amor”
Sou
um selvagem que ficou parado
Ante
o esplendor da civilização...
E
tenho, na minh’alma, concentrado
-
O orgulho dum nativo não domado,
-
O amor às causas simples do Sertão.
Amo com ânsias de paixão
veemente
A pequena Cidade onde nasci,
Esta Conquista que cativa a
gente
E que é, à luz do meu amor
ardente,
A mais bela cidade que já
vi.
Afastada
da ação avassalante
Do
cosmopolitismo destruidor,
Exposta
aos ventos do Sertão distante,
Ela
é a cabocla que não tem amante,
Que
desconhece o bem e o mal do amor.
Nada me importa a mim que a
julguem feia,
Aldeia morta, burgo
caricato...
- Quero ser o caboclo dessa
aldeia;
Conquista pra mim é sempre
cheia
De um perfume de lenda muito
grato...
É
aqui que está, turbilhonante ou calma,
A
alma em flor do Brasil pujante e belo,
Alma
que chora nas violas, alma
Que
ri, que sonha a soberana palma
Para
o pavilhão que é verde e amarelo.
Aqui, o homem na paz mais
doce encerra
A graça do labor grave e
fecundo,
Longe do horror da Europa e
dessa guerra
Que a humanidade angustiada aterra
Porque o “homem mau
endoideceu no mundo.”
Aqui,
da tradição ainda resta
Alguma
coisa de valor ideal:
-
A grande noite de São João – a festa
Mais
bonita do mundo inteiro, - a esta
Encantadora
noite de Natal...
Aqui, em noite de luar de
prata
Que o langor da Saudade faz
mais bela,
Inda se pode ouvir a
serenata
E uma voz a cantar, queixosa
e grata:
- “Acorda, abre a janela
Stela”...
Aqui
se passam horas encantadas
Ouvindo-se,
no cair da tarde imensa,
Queixumes
de violas nas quebradas,
Carros
de bois gemendo nas estradas,
Uma
paisagem de beleza intensa...
Nada me importa a mim que achem
ainda
Feia a Conquista muito amada
e bela.
Eu sempre a julgo cada vez
mais linda,
E creio que é minha ventura
infinda
Ficar selvagem e ficar com
ela.
(1940)
OCASO
NA FAZENDA
Ei-lo,
chegou ao fim da caminhada extensa,
Trêmulo,
o olhar sem luz, os cabelos nevados.
E,
enquanto o ocaso doira os serros e os valados,
O
velho fazendeiro amargamente pensa...
Ambição
vitoriosa... Os sonhos realizados!...
Certo,
para o labor dos dias já passados,
Foi
ampla, foi soberba, a enorme recompensa.
O
latifúndio é seu: as terras, a floresta...
Que
vale isso, porém, se da vida lhe resta
Apenas
um clarão que é da morte a legenda?!
E
o velho fazendeiro amargamente chora...
Mata-o
a dor de sentir que lhe bastam, agora,
Sete palmos de terra e uma cruz na fazenda
Réquiem ao poeta Laudionor A. Brasil uma das mais expressivas voes da cultura conquistense.
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