JESUS SANTOS

JESUS GOMES DOS SANTOS

Conquistense, nascido no distrito de José Gonçalves, no dia 9 de fevereiro de 1922, sendo seus pais o Sr. Inocêncio Alves dos Santos e D. Maria Gomes dos Santos.
Sua escola foi a primária. Dotado de muita inteligência, tendo por mestres os livros, tornou-se um perfeito autodidata. Na adolescência foi aprendiz de alfaiate; empregado comercial, gerente da Farmácia Lia.
Primoroso poeta nato, admirado pelos grandes poetas baianos, dentre eles Camilo de Jesus Lima. Escreveu uma “Coroa de sonetos” considerada pelos críticos literários uma das mais perfeita já escritas e publicadas. Foi jornalista, gerente de “O Combate”.
Militando na política, foi eleito vereador pela União Democrática Nacional, nas eleições realizadas no dia 3 de outubro de 1958, chegando à presidência da Câmara Municipal em 1962 tendo assumido o cargo de Prefeito durante ausência do titular.
Em março de 1962, o diretório da UDN em convenção o indicou a concorrer ao cargo de Prefeito à sucessão de Gerson Sales, mas não logrou êxito.  

Poema:

NATAL DO MENINO POBRE

Aquele Natal ficou como uma tatuagem no meu pensamento...
O presépio armado na sala pequena,
Revestido de lodos e gravatás.
O jumentinho cinzento balançando a cabeça.
A negra que Tia Sinhá arranjou de pedacinhos de pano
Capinando com a enxadinha de tampa de lata
O arroz verdinho, lá em baixo.
Os Reis Magos descendo nos seus cavalos,
Guiados pela estrada de Belém.

Deus menino tinha acabado de nascer na gruta
E estava deitado sobre as palhas, nuzinho.

O sino da igrejinha chamava para a missa do galo,
Mas minha mãe continuava no pedal da máquina,
Costurando camisas para a loja de “seu” Manoelzinho,
a-fim-de me dar uma roupa nova
no dia do Ano Bom.

Eu perderia o juízo se não comparecesse ao reisado.
Era o sonho das crianças do lugarejo
Ver Anunciado sapateando,
Zé Tavares batendo o zabumba
E João Caixa repartindo o boi, de casa em casa:
“O cupim
É do velho Joaquim.
A pá
É de dona Sinhá.
A rabada
É da rapaziada.
A venta
É de dona Benta.
O coração
É de “seu” Tião.
Depois que a casa ficou quieta,
Que todo mundo foi dormir,
 Eu me levantei devagarinho,
E coloquei o meu sapato acalcanhado atrás da porta.
Os companheiros me disseram
Que Papai Noel passaria naquela noite
Trazendo um saco de brinquedos.
Quando foi no outro dia
Eu tive vontade de atirar uma pedra
Na cabeça daquele velho feio,
De botas pretas e de barbas brancas,
Do presépio de Madrinha Liça.

Como ele deitou uma boneca na alpercata de Lolita
E deixou uma bola de borracha para o Vavá?!

Hoje meus olhos estão fitando uma estrela que não é a de Belém,
Essa que está guiando os homens e não os reis
E está clareando a gruta do futuro,
Para que as crianças nasçam e cresçam felizes
No presépio da vida.

Meus olhos estão fitando a estrela
porque eu sei como dói
a gente deixar o sapato atrás da porta,
numa noite de Natal,
e Papai Noel não botar nada nele...

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