EUCLIDES DANTAS

Como
teatrólogo fez um teatro voltado para a moralização dos costumes e para o
patriotismo. Usava como uma forma de complementação às suas atividades
pedagógicas.
Como
romancista, deixou “Terras” romance regional em que o autor focaliza fatos
ocorridos no Município no fim do século XIX, como a “Tragédia do Tamanduá”.
Como
poeta legou à cidade o livro “Árvores Mortas”, coletânea de poemas de editado
em 1937. Repentista e epigramista ferino, deixou sátiras de fundo político e
social que marcaram uma época.
Nos brindou com seu mais belo presente para Vitória da Conquista que foi o hino:
A
pedidos, “escreveu na perna” este soneto satírico, dedicado aos bajuladores dos
chefes político e que são autênticos madrinheiros.
O
MADRINHEIRO
Em
rente a tropa, segue, sobranceiro,
Ostentando
vistosa cabeçada
Cheia
de guisos, toda ornamentada,
O
mais belo do lote: o madrinheiro.
As demais alimárias, do guieiro
Obedecem, a marcha compassada;
Grave, marcando o rumo da jornada,
Tem aspecto de nobre mensageiro...
Entretanto, conduz
também a carga,
Dois volumes pesados, igualmente,
Que o destino do burro não
larga...
Quantos que a
gente, pelo mundo, topa.
São no orgulho risível e inconsciente
Madrinheiros legítimos de tropa! ...Nos brindou com seu mais belo presente para Vitória da Conquista que foi o hino:
Conquista,
joia do sertão baiano/ Esperança ridente do Brasil / A ti, meu orgulho soberano
/ O afeto do meu peito juvenil // A ti minha esperança no futuro / Os sonhos do
meu casto coração / És e sempre serás meu palinuro / Ó pérola fulgente do
sertão.
Conquista
tesouro imenso… / O mais belo da Bahia / Que primor, que louçania / Tem mais
brilho aqui o sol // Conquista terra das rosas / De florestas seculares / Tem
mais amor em seus lares / Que luzes no arrebol.
Deixar
o doce encanto destas ruas / Deixar teu céu que tanto bem almeja / Eu morreria
de saudades tuas / Minha querida terra sertaneja // Entretanto, se a pátria me
exigir / Deixar-te para a pátria defender / Este afeto bairrista é vã mentira /
Pelo Brasil inteiro irei morrer!
Surge
o sol, fogem pássaros dos ninhos! / Todos vão venturosos trabalhar / Eu também
imitando os passarinhos / Deixo o morno regaço do meu lar // Para a escola
caminho satisfeito, / Da pátria vou saber as glórias mil / Conquista, que
emoção vibra em meu peito / Ao fitar-te no mapa do Brasil.
Vocabulário
Ridente: alegre; risonho;
satisfeito.
Palinuro: piloto; guia.
Fulgente: brilhante.
Louçania: garbo; elegância.
Arrebol: cor afogueada que toma a
atmosfera antes de o sol nascer ou depois de ele se pôr.
Bairrista: diz-se de ou pessoa muito
afeiçoada ao seu bairro ou à sua terra.
Venturoso: ditoso; feliz.
Regaço: seio, lugar onde se acha
conforto e tranquilidade.
Com o fim da guerra de 1918, fez
este cordel:
O FIM DA
GUERRA – ABC dedicado ao amigo
Demósthenes Rocha
A guerra está
terminada,
Reina a paz,
reina alegria!
Acabou-se a
trovoada,
Que roncava,
noite e dia...
Que samba,
rapaziada,
Se não fosse a
epidemia!
Brasileiros,
exultemos,
Nossa pátria
fez figura;
Da victória
partilhemos...
Quando a coisa
estava dura,
Nós na guerra
nos metemos,
Sem temer a
desventura!
Com furor
insaciável,
A Alemanha fez
a guerra;
Seu orgulho
inimitável,
Quis tomar
conta da Terra...
Que loucura
formidável!
O dedo de Deus
não erra!
Danado monstro
terrível,
O imperador da
Alemanha
Já se julgava
invencível;
Mas, quem
bate, um dia apanha...
Está preso o
bicho horrível,
E nossa causa
está ganha!
Europa velha,
coitada,
Sofreu muitos
dissabores;
Quase morre
mergulhada
Num mar de
sangue e de dores!
E a Alemanha
excomungada
A querer novos
horrores!
França invicta,
gloriosa,
Sofreu, mas
não foi vencida;
Ei-la, enfim,
vitoriosa,
Cheia de força
e de vida!
Salve, França
esplendorosa,
Bela na paz e
na lida!
Grandes foram
as maldades
Que a Alemanha
fez ao mundo,
Traições e
perversidades;
Mas, o Guilherme
Segundo
Verá suas
crueldades
Lá no inferno
bem profundo!
Hoje as Nações
Aliadas
Viverão eternamente
Risonhas,
entrelaçadas,
Num abraço
refulgente,
Livres das fúrias
danadas
Do tirano
impenitente!
Inglaterra se
levanta
Dum leito de nenúfares,
E os hinos de
glórias canta,
Rebrilhando,
entre os seus pares;
O mundo
inteiro decanta:
- Salve,
Rainha dos Mares!
|
Já não há mais
barbarismo!
Os povos
civilizados
Calcaram o
Kaiserismo!
Hoje, todos
são ligados
Por um só
patriotismo...
Venceram os
aliados!
Kaiser fugiu,
pois mofinos
São todos os
malfasejos;
Dos boches
maus e assassinos
Fracassaram os
desejos...
Tornaram-se
pequeninos,
São pobres
animalejos!
Lá no velho Continente
Houve choros e
tristezas;
Dobrava o sino
plangente,
Mágoas, lutos,
incertezas;
Troava o
canhão potente,
Repercutindo cruezas...
Mas, Jesus
ouvira o grito
Dos sofredores
cansados;
E, descendo do
Infinito,
A terra dos
vis pecados,
Disse: - Basta,
ódio maldito,
Quero a Paz,
filho amados!
Navios que
viajavam,
Neutros, pelos
oceanos,
Sem esperar,
sossobraram,
As balas dos
desumanos
Alemães, que
saltearam,
Com traições e
maus enganos!
Ó terror jamais
havido
Na História da
Humanidade!
Ficarás inesquecido,
Pela tua
crueldade;
Nunca serás
redimido,
Rei do crime e
da maldade!
Portugal,
nação potente,
Camões, no céu
te abençoa;
És generoso e
valente
És pátria da
gente boa;
Tua glória,
eternamente,
No mundo
inteiro ressoa!
Quem julgara que
o inimigo
Tão depressa
correria?
No momento do
perigo,
Pôs à vista a
covardia!
O Kaiser não
teve amigo
Na Áustria,
Bulgária e Turquia...
Rei Alberto,
te devemos
Grande parte
da vitória!
Aliados,
celebremos
O nome cheio
de glória
Do Rei
Alberto, que temos
Em letras d’oiro,
na história!
|
Servia, nação
pequenina,
Mas, forte no
sofrimento,
Soube ser
nobre heroína,
Sem recuar um
momento!
Mas a Alemanha
assassina
Fugiu do campo
sangrento...
Trouxe guerra,
peste e fome
O Kaiser, com
seu reinado;
Seu povo está
revoltado,
Excomungando-lhe
o nome;
E se não fog o
malvado,
Lá mesmo, o
povo o consome...
Uma grande
carestia,
Por toda a parte
alarmando,
Ao rico, ao
pobre fazia,
Deixava o
pobre esmolando;
Para vir mais
maltratando,
Chega, enfim a
epidemia!
Veneza, quase
é tomada, mas venceu com galhardia;
A Itália é
glorificada
Pela sua
valentia!
Salve, querida
aliada,
Bela pátria da
harmonia!
Wilson,
defensor potente
Dos fracos,
dos oprimidos,
Luz do Novo
Continente,
Grande amparo
dos vencidos!
Tão forte, mas
complacente;
Glória aos
Estados Unidos!
Xarque tornou-se
tão,
Que o pobre já
não conhece;
Bacalhau, isso
é tão raro,
Nem mesmo ao
rico apetece;
E a branca de
Santo Amaro
Quase que
desaparece...
Yankees,
belgas, ingleses,
Rumaicos,
italianos,
Sérvios,
gregos e franceses,
Povos sul
americanos,
Japoneses e
chineses,
Viva a Paz por
dez mil anos!
Zumbe o
remorso indisível,
Qual besouro
vil, medonho,
Em pesadelo terrível,
Quer desperto,
quer no sonho;
Eu julgo ser
impossível
Ao Kaiser, dia
risonho!
Conquista
12-dezembro de 1918
Euclydes
Dantas.
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