ERNESTO DANTAS




Sr. Ernesto Dantas e D. Umbelina


Na bela pesquisa do saudoso memorialista Anibal Lopes Viana, que resultou na “Revista Histórica de Conquista” há o relato que diz: “Ernesto Dantas Barbosa, personagem de destaque na nossa História, nasceu na histórica cidade de Caitité em data não conhecida.

Veio para Conquista na metade do século XIX com seus irmãos de nomes Cassimiro, D. Cecília, que se casou com o fazendeiro José Correia de Melo e D. Ceciliana que foi casada com Arquimino Fagundes.

Neste Município, sua primeira atividade foi o magistério.
Não tinha diploma universitário, porém, muito inteligente. O seu pai Manoel Barbosa, seu professor, lhe fez um homem de invejável cultura. Neste Município espargiu a luz de seu saber e muito concorreu para o alevantamento da instrução, como magnífico Mestre.

Casou com D. Umbelina Maria de Oliveira, viúva do Sr. Manoel Fernandes de Oliveira, (pai de Maneca Grosso) de cujo consórcio nasceram vários filhos.

O professor Ernesto Dantas tinha sua escola na fazenda Jequitibá onde ficou residindo depois de casado e foi educador de seus enteados Manoel Fernandes de Oliveira, Maneca Grosso, José Maximiliano Fernandes de Oliveira (Cazuza Fernandes), Joaquim Fernandes de Oliveira (Quimquim da Jiboia) e de todos os seu filhos.

Foi um dos fundadores do Espiritismo neste Município, fundador e regente de uma filarmônica cuja sede era na sua fazenda, distante desta cidade cerca de 30 quilômetros para onde se dirigiam, mensamente, os aprendizes.

No jornalismo local, foi brilhante colaborador de “A Conquista” “A Palavra” e redator-chefe de “A Notícia”, em cujas colunas publicava crônicas e belas poesias

O ilustre cidadão faleceu em sua fazenda Jequitibá, no dia 26 de maio de 1921.

Por ocasião de seu passamento o Professor Marcelino Alves Mousinho, que foi redator de “A Palavra”, escreveu ao diretor de “A Notícia”, Sr. Alziro Prates, uma carta de condolências da qual foi extraído este trecho: “Consola-nos, no entanto, uma esperança que decorre de sua vida toda empregada no exercício da virtude e do bem, a qual nos deixa entrever por entre os turbilhões das dúvidas que nos assaltam, como que um esplendor de vividas luzes onde, mesmo deste mundo enganador, antevemos a glória daqueles que, como o Coronel Ernesto Dantas passaram fazendo o bem”.

“A Notícia”, em edição de 20 de maio de 1922, em editorial, publicou um artigo comemorando o primeiro ano do falecimento do Sr. Ernesto Dantas do qual transcrevemos esta parte: “Cidadão honrado e bom a quem não há nem houve ninguém que, conhecendo-o de perto, deixasse de admirá-lo extremamente.

O Cel. Ernesto Dantas não foi um homem vulgar. Vida afeita ao bem, espírito sempre concentrado a imaginar o magno problema da felicidade alheia, aquele nosso inesquecível conterrâneo possuía uma inteligência rara e tal cultura, sempre muito superior ao que se pudesse aquilatar nos primeiros momentos de trato com ele.

A modéstia foi uma de suas principais virtudes; modesto até a humildade, todavia, jamais baixou à humilhação, incompatível, certamente, com o seu caráter de homem de bem.

É sempre que sentia periclitar a causa da coletividade, ei-lo com aquela firmeza de consciência inamolgável nos seus princípios austeros e puros, de doutrinador da paz, da união e do engrandecimento da terra em que viveu a maior parte de sua passagem por este planeta, e a combater impávido e sereno o erro, procurando encaminhar, os seus concidadãos na trilha da verdade, na vereda reta, posto que escabrosa, muita vez, da justiça, do direito e da razão.

Não podem as nossas pálidas expressões descrever o quanto soubemos admirar aquela alta personalidade que, vivendo, embora por um gosto íntimo, insulado, a conversar com os livros, a cultivar as flores, ameigar os passarinhos, nem por isso deixar de ser o maior talento dentre os homens leigos do sertão.

A vastidão dos seus conhecimentos, o modo rápido e elegante com que ele traduzia o francês, o inglês, o italiano, o espanhol e o latim, possuindo ainda avantajadas noções de outros idiomas; a sua competência, largas vezes comprovada em assuntos de astronomia, geografia e história universal; tudo isso, ao par de uma acentuada vocação para a poesia e para a arte divina de Mozart, por isso que fora poeta e músico competente, já se vê que em se nos referindo ao Cel. Ernesto Dantas Barbosa com razão dissemos não ter sido ele um homem vulgar e sim, um dos mais ilustrados e talentosos sertanejos da Bahia.

Ele também foi mestre, também foi educador provecto, prestando preciosíssimo concurso de seu saber a muito moços deste Município e dos de Condeúba e Caitité, a Côrte do Sertão, que foi a terra do seu berço.

“A Notícia” a cujas colunas tanto brilho deu, sendo deste jornal redator-chefe; “A Notícia” vem hoje, tarjada da desolação, da saudade pungentíssima, espargir goivos de imperecível recordação sobre o túmulo em que repousam os restos mortais do Cel. Ernesto Dantas Barbosa”.


Uma poesia de história marcante:

“Quando Ernesto Dantas propagava o espiritismo em Conquista foi fortemente atacado pelos padres católicos e para rebater os ataques escreveu este poema:


CANTILENAS

Nobre povo, acorda! É tempo!
Abre os olhos! Fita a Luz!
Da verdade trilha a senda,
Que ao progresso nos conduz!

Irmãos despertai!
Alerta, escutai!
Que a voz da Razão
Percorre a amplidão!

Deixa os antros da Ignorância,
Onde o clero se mantém!
Foge o Mal, que vem das trevas,
Segue a Luz, que gera o bem!

Se o teu suor locupleta
O clero, que nada faz,
É porque, de olhos fechados,
A seus pés curvado estás!

Paladinos da Mentira,
Verdugos sem coração,
Não sabem os que te exploram
O que seja compaixão!

– Inferno, Penas Eternas,
Satanás, a confissão –
Eis de Roma as ímpias armas,
A monstruosa invenção!

Nunca foram tais torpezas
Ensinadas por Jesus.
 Justiça, Amor, Liberdade –
Legou-nos Ele na Cruz!

Esse jugo, que te avilta,
Arranca e quebra de vez!
Dos lares varre essa lepra!
Imita o povo francês!

Eis! Os tempos são chegados
– Diz o céu, a terra, o ar –
Dessa Igreja corrompida
Para sempre baquear!


Em minhas buscas por informações, ouvi o seguinte relato: quando D. Umbelina Maria de Oliveira ficou viúva, os familiares se reuniram e acharam por bem que ela se casasse de novo para dar suporte e amparo aos filhos e à manutenção do patrimônio da família.

Passado o tempo do luto, eles procuraram o professor Ernesto Dantas para oficializar o casamento. Este, no entanto, impôs uma condição: que fossem libertados os escravos existentes na fazenda.
Só para se ter uma ideia do tamanho do pedido, na época, os escravos valiam mais que a própria terra.

No entanto, a condição foi prontamente aceita. Não só os escravos foram libertados como o professor Ernesto Dantas, prontamente, os ensinou a ler e escrever.



UM POUCO MAIS DO POETA









CANÇÕES VICTORIENSES

-Postas em música pelo autor-

Sertanejos, irmãos, celebremos
Nossa terra tão bela e gentil;
Que mais graça e primor não se encontra
No formoso e gigante Brasil.

c   Gratas notas no espaço lancemos
o   Em sonora e festiva canção!
r   Elevemos bem alto a Victória.
o   Linda flor do baiano sertão!

Qual donzela que o busto mimoso
No regaço materno reclina,
Nossa terra se expande jucunda
No pendor de suave colina.

Nossa terra tem vastas florestas
Onde mora o jaguar, o tapir;
Nossa terra é tesouro inda oculto,
Que o futuro inda virá descobrir.

Nossa terra tem verdes campinas,
Onde canta a veloz seriema;
Nossa terra de encantos tão cheia,
Da natura é um ridente poema.

Nossa terra tem altas montanhas
De verdor perenal coroadas;
Tem fecundos e esp’endidos vales,
Que separam soberbas chapadas.

Cristalinos e amenos ribeiros,
Pelos prados e bosques serpejam;
Das palmeiras nos arcos virentes
Mil plumosos cantores adejam.

Pelo pardo e pujante Patype
Nossa terra no sul é banhada;
Da Natura nos vários domínios,
Pelo Céu, com primor, foi dotada.

Nossa terra no porvir não remoto,
Será grande, brilhante, notória:
Elementos tem ela sobejos

E seu nome é Conquista, é Victória!

1880




DOS MENINOS

Amigos, cantemos a terra querida,
Em cujo regaço, surgimos à vida,
A terra natal, ao berço gentil,
Nos ares soltemos
Um canto infantil.

Ainda pequenos
Para defendê-la
Já nos inflamamos
De amor por ela.

c  Ressoem nos vales,
o  Nos montes, nos prados
r   Uns ecos alegres.
o  Sonorosos brados!

Se os braços não podem
A lança vibrar,
Os peitos ardentes
Já podem arfar.

Mas quando soubermos
As armas volver,
Também saberemos
Por ela morrer.

Prospera e sê grande
Querida Vitória!
Teu nome diz tudo:
Teu nome diz – Gloria!


1881







Resposta

- Ao Dr. Augusto Vergne de Abreu, meu dileto amigo, então Promotor Público d’esta
Comarca, que me dirigiu uns versos, nos quais fazia alusão ao respeitável nariz, com que
me favorecera a natureza; e dizia ter tantas saudades de mim, que chorava pela venta
esquerda correndo as lágrimas pela testa acima os referidos versos também começavam assim: 
Se eu te dissesse imitando a bela e popular poesia de Castro Alves.


Se tu dissesses, caneludo, amigo
Que tens por base dois enormes serros,
Onde és fincado, creio que em castigo
De teus passados e futuros erros;

Se eu te dissesse que conheço a ema,
O socó-boi, a garça, o jaburu,
A curicaca e a ágil seriema,
Mas nunca vi pernalta como tu;

Se eu te dissesse que, se da sinistra
Fossa nasal o ranho a jorro corre;
Se te anda rubra, qual peruveia crista,
A extremidade da mencosa torre,

É porque passas sem dormir as noites,
Extraviado em sensuais serões,
Do vento frio recebendo açoites
Na quente frente, que ao relento pões;

Se eu te dissesse que desprezo essa água,
Que por mim corre pela testa além;
Que não me causou a mais leve mágoa
Esses chorões que assim me querem bem.

Se eu te dissesse que do amigo ausente
Saudades tenho cordiais, sinceras;
Que às vezes trago duvidosa a mente
Sobre os amigos que me são deveras...

Se eu dissesse tudo quanto sinto,
Se bem que ao grego de remotas eras
Egnal enseja (nem zombando minto),
Não é verdade! Tu talvez disseras.

Novembro de 1886









CÂNTICO ESCOLAR
A pedido da Professora Honorina Andrade


   Excelsa mãe de Jesus,
   Mãe de glória singular,
   Lá do teu sólio de luz
   Volve a nós um doce olhar.

   Nossos rogos filiais,
   Nosso cantico de amor
   Acolhe, ó mãe dos mestres,
   Com carinhoso favor.

Nos perigos, na dureza
D’esta falaz existência,
Ampara a nossa fraqueza.
Proteje a nossa existência.

A Deus implora a ventura
Ó Virgem da Conceição,
De termos sempre alma pura,
Mente clara e corpo são.

   A ti, mãe do Salvador,
   Delícia da Cristandade,
   Cantem hinos de louvor
   Por toda a eternidade.

Março de 1901 – música do autor




CÂNTICO ESCOLAR

A pedido da Professora D. Honorina Andrade

 - música do autor -



Supremo espírito!
Ser incriado!
Pai adorado
Da creação!
Atende às súplicas
De teus filhinhos
Que de carinhos
Sedentos são!

Já surgem máculas,
Que de outras vidas
Foram trazidas
Por nosso ser;
Delas depura-nos,
Deus de clemência,
Nessa existência,
Com teu poder!

A mente aclara-nos
C’m a Luz divina,
Que a senda ensina
Da perfeição.
Faze que o próximo
Amar saibamos
E o bem façamos
Sem distinção!

Santos estímulos
Da Caridade,
Meiga bondade
Dá-nos, Senhor!
Em terno cântico
Te bem dizemos
E te rendemos
Culto de amor!

Janeiro, 1908.

11 comentários:

  1. Parabens pelo trabalho!!!!
    Sou bisneto do velho Ernesto Dantas, neto da sua filha caçula Maria Celestina,fico feliz com tudo isso, muito!
    Obrigado.

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    1. Oi parente. Grato pelo comentário. Eu sou bisneto de Umbelina e Maneca Grosso, então Maria Celestina é "meia" tia avó minha. Você é filho de quem? Você é parente de Paulo Marcio, outro neto de M. Celestina Você conhece?

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  2. Ernesto Dantas , meu tataravô,que bom resgatar história de meus antepassados...

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    1. Oi Elizeu. E eu sou bisneto de Umbelina.

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    2. Olá Fernando!que legal ambos foram pessoas ilustre descobrir isso recente , muito bom!

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    3. Sou bisneto de Maneca Dantas e Neto de Ciro Dantas Moreira

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  3. KLEBER DANTAS PALMELA14 de junho de 2022 às 23:45

    Olá boa noite , que bom saber dessa história, eu sou trisneto de Ernesto Dantas.

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  4. A história do velho Ernesto é fantástica! Sou Samanta Brito Dantas, bisneta dele.

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  5. Ana Angélica Dantas18 de junho de 2023 às 14:42

    Legado maravilhoso deixado por meu bisavô. Muito orgulho do meu nome, escolhido por ele para minha avó, sua filha.

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  6. Dulcina, filha de Ernesto Dantas, casada com Maneca Moreira , desse casamento nasceram filhas e filhos, dentre eles Homero Moreira, casou-se com Leolinda Lula Moreira, e nasceram Vera Lula Moreira, João de Deus Lula Moreira, Maria Emília Moreira Abreu, Ernesto Lula Moreira, Clóvis Lula Moreira, e Miriam Lula Moreira de Oliveira.

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